Essa semana uma amiga se viu obrigada a eutanasiar seu cachorro. O Toy, um poodle de 11 anos de idade, que viveu com ela a vida inteira. Acompanhei tudo pelo twitter, e sofri junto, por saber o quanto isso dói. Quando voltei pra casa ontem, apertei tão forte as minhas (Noah – Golden Retriever; Olívia Labrador Rottweiller e Sandy Homo Sapiens Sapiens Poodle), que elas até fugiram.
Ter cachorro é um barato! Eu acho de verdade que a vida ganha muito mais sentido quando se tem um cão, porque não há nada na vida mais recompensador do que chegar em casa e o seu peludo vir te cumprimentar feliz, como se há dias não te visse, e como se você fosse a pessoa mais importante do universo.
A minha história no “mundo canino” é longa, e começou há uns 20 anos atrás, mais ou menos, quando o meu pai trouxe um filhote de ganso pra casa, e, depois que o bicho cresceu, virou um psicopata em potencial e começou a correr atrás de nós, pobres, inocentes e oprimidos; ele (o meu pai, não o ganso!) trocou o penoso por um cachorro.
Não lembro muito de como/quando aconteceu, a única coisa que me recordo do dia da chegada da Lassie foi que eu chorava e gritava pedindo meu pato de volta! Claro que essa marra toda durou pouco, porque depois da passagem do “trauma da descoberta”, quando me esforço pra lembrar dos fatos a primeira coisa que me vem à memória é a imagem do meu pai com o telefone na mão, conversando com o cara do canil, dizendo que não ia devolver o cachorro de jeito nenhum. Pois é, o Zé Bob comprou gato por lebre! Ou melhor, comprou vira-lata por Pastor Alemão! Quando nós percebemos que tínhamos adquirido um cachorro de marca genérica, meu pai foi lá reclamar, e o dono do canil disse que se nós devolvêssemos o filhote ele daria outro (FICADICA, GENTE! Se você for comprar um cão, pesquise direitinho informações sobre o canil, e se disponha a pagar um pouco mais por um filhote de procedência confiável! Nada de comprar filhote de criador de fundo de quintal, que não tem os devidos cuidados e que geralmente tá pensando em “fazer dinheiro” cruzando a fêmea dele com o macho do vizinho!) de outra ninhada, um Pastor Alemão ‘original’. Claro que não aceitamos, porque naquela altura eu já era doida pelo cachorro, e todo mundo em casa também já amava aquela coisa peluda. E assim começou minha vida de cachorreira.
Alguns anos depois veio a Hannah, um Rottweiller lindo (todos são, aliás, eu sou uma apaixonada pela raça!), roliço, fofo e peludo, que eu e o meu irmão compramos escondido e trouxemos pra casa sem os nossos pais saberem, e, consequentemente, sem o aval dos mesmos. Juízo? Não trabalhamos! Também consigo lembrar da cara de apavorada da minha mãe quando viu aquele projeto de cachorro-assassino destruindo perambulando pelo quintal! Quando a Hannah veio, a raça estava sendo largamente divulgada, não me lembro o motivo, mas não era por coisa boa. A imagem que os meus pais tinham de um Rottweiller era a de um cachorro traiçoeiro, mau, vingativo e dominante, que iria devorar a família toda e ainda palitar os dentes com os nossos ossos.
Porém, a Hannah se mostrou um cachorro brilhante, dócil com crianças, meigo, carente e carinhoso, de uma maneira que eu tenho certeza que surpreendeu a todos. Menos a mim, que sempre compartilhei da idéia de que “o cão é a cara do dono”, e sempre tive certeza de que é impossível um cachorro ser feroz se for criado com amor (a não ser que ele tenha desvio de comportamento, mas aí é outra história. Daí a importância de um filhote de procedência confiável!). Foi exatamente isso que aconteceu, e a Hannah acabou se tornando meu cachorro-amigo e nós desenvolvemos uma conexão inexplicável.
Nesse meio tempo também veio a Sandy, a devassa Poodle histérica, que nós adotamos quando os pais de uma ex namorada do meu irmão se separaram, cada um mudou pra um apê e a cadelinha virou uma pobre sem-teto. No início minha mãe foi super resistente, por nada nessa vida queria deixar que trouxéssemos a Sandy pra casa, mas acabou cedendo e o trio ficou completo.
Aos 18 anos, a Lassie já apresentava vários problemas de saúde por conta da idade: estava cega, tinha um tumor nas mamas, ficou banguela e surda… Coisas que nós fomos contornando com remédios, consultas freqüentes ao veterinário, cuidados, e etc. Até o dia em que ela começou a desenvolver insuficiência renal. Mais remédios. De uma hora pra outra ela piorou MUITO, os remédios já não faziam mais efeito, os retornos no veterinário estavam ainda mais freqüentes, ela parou de andar e chorava de dor o tempo todo, um puta sofrimento que eu, particularmente, não desejo pra ninguém! Teve uma noite que eu passei em claro escutando-a chorar. No dia seguinte, decidimos que não havia mais nada a ser feito, que havia chegado a hora de acabar com todo aquele sofrimento e deixá-la partir.
Isso foi em 2006, eu havia apenas começado a minha faculdade, era 18 de Outubro, e eu tinha prova de cálculo. Minha mãe não me deixou acompanhar o procedimento, disse que eu precisava me concentrar, e eu fiquei chorando na casa da minha avó, enquanto levavam a minha vira-latinha idosa pra passear pra sempre pela ponte do arco-íris. E assim eu perdi o cachorro que acompanhou a minha infância, que me defendeu dos ataques do meu irmão, e que foi a principal responsável por eu desenvolver essa curiosidade toda pelos animais.
Meses depois, no dia 05 de Novembro, a Hannah teve um mal súbito que ninguém sabe dizer exatamente qual, e atravessou a ponte pra ficar com a Lassie. Eu sofri. Sofri MUITO, porque perdi minhas duas companheiras em tão pouco tempo, e uma delas ainda “nova”, com 9 anos, por motivo desconhecido. Foi inevitável não passar dias, noites, meses, imaginando o que eu poderia ter feito para salvá-la, me culpando por não ter feito mais, e perguntando o que eu havia aprontado de errado para perder dois bichinhos tão amados, em tão pouco tempo. A veterinária diz que ela comeu algo que bloqueou o sistema digestivo. Eu tenho certeza que ela morreu de saudade.
Hoje as duas dormem juntinhas lá no sítio, debaixo da sombra de uma árvore bonita.
Depois disso começamos a sentir a casa vazia com um cachorro só, e em pouco tempo eu já bolava planos infalíveis para convencer a galera a colaborar com o sustento de outros dois cachorros. Uma vez a família de acordo, saí caçando canil de Rottweiller e Golden Retriever. Achei. Busquei a Noah em Janeiro e a Olívia em Fevereiro, as duas filhotonas mais fofas!
Fiz um Orkut, me interessei por adestramento e comportamento animal. Devorei livros, artigos e revistas sobre o assunto, estudei um monte. Aprendi muito, conheci gente, me apaixonei, fiz amigos que vou levar pra vida inteira, ganhei muita gente querida.
Conheci um mundo novo, e devo boa parte do que sou hoje às minhas cadelas. Porque, não fosse por elas, eu nunca teria me interessado pelo assunto, nunca teria sido apresentada ao mundo da cinofilia, e, conseqüentemente, não teria conhecido as pessoas que hoje mais me apóiam, empurram, incentivam e me seguram quando eu penso que tá tudo fodid*.
Não sei como vai ser quando chegar a hora de umas das três partir e prefiro não pensar muito nisso, mas sei que vou sofrer, porque toda separação é dolorosa. Espero que não seja tão traumático nem doloroso como foi da última vez. Por ora, me aproveito da companhia delas, de tudo o que elas me proporcionam de bom, daqueles “sorrisos” idiotas e me divirto com as trapalhadas e palhaçadas.
Cachorrada, cachorreiros: AMO!